top of page

Mudanças climáticas estão longe do debate escolar, aponta pesquisa

  • Mauro Scarpinatti
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura

Pesquisa mostra que 92% dos docentes consideram essencial falar sobre as mudanças climáticas, mas faltam formação, apoio e recursos pedagógicos nas redes de ensino


ree


Por Ana Luísa D'Maschio| Porvir | 20 de outubro de 2025


O Brasil se prepara para sediar, em novembro, em Belém (PA), uma das conferências mais importantes do mundo sobre o enfrentamento da crise climática. A COP30 está batendo à porta e colocará o país no centro das discussões globais sobre meio ambiente, desenvolvimento sustentável e justiça climática.


Não apenas os governos devem se reunir para definir metas e compromissos. As escolas também têm papel importante nessa agenda. É nas salas de aula que as novas gerações aprendem a compreender o impacto das mudanças climáticas e a agir coletivamente para enfrentá-las.


O que diz a pesquisa

Uma pesquisa nacional realizada pela Nova Escola, em parceria com o OCE (Office for Climate Education), mostra que os professores brasileiros estão prontos para contribuir com esse movimento. Faltam, porém, incentivos e recursos para fazê-lo.

O relatório “Educação sobre Mudanças Climáticas: Percepções e Práticas de Professores no Brasil” revela que 92% dos professores consideram a educação climática muito importante, mas a maioria ainda enfrenta falta de formação, apoio institucional e recursos pedagógicos para trabalhar o tema de forma contínua nas escolas. O estudo ouviu 1.600 professores de todas as regiões do país, das redes pública e privada.


A situação entre professores


De acordo com os dados, 38% dos professores não se sentem seguros para ensinar os fundamentos científicos das mudanças climáticas, e mais de 40% das escolas não possuem nenhum plano de ação climática em seus Projetos Político-Pedagógicos. Além disso, 60% dos docentes afirmaram não saber se o documento contempla o tema.Mesmo diante dessas limitações, o interesse dos educadores em aprender e ensinar sobre o assunto é alto: 86% dos professores manifestaram vontade de participar de formações continuadas sobre o tema, mas relatam escassez de tempo e falta de incentivo das redes de ensino para se capacitarem.Trinta e oito por cento dos professores dizem não se sentir confiantes para ensinar as bases científicas do tema, índice mais alto observado em relação a outros assuntos, como causas humanas (6%), soluções (8%) ou impactos locais (11%).


Além disso, os docentes pedem materiais pedagógicos de qualidade, com base científica e relevância local. Muitos defendem que o ensino sobre o clima integre conhecimentos indígenas e tradicionais, unindo saberes culturais e científicos para abordar o tema.Em muitos casos, a educação climática depende da iniciativa individual dos educadores.


Ranking ambiental


A situação se agrava quando se observa o contexto nacional. O Brasil enfrenta cada vez mais os efeitos da crise climática, como secas prolongadas, enchentes e queimadas.Um em cada três moradores da Amazônia Legal (32%) já está sentindo diretamente os efeitos das mudanças climáticas, revela a pesquisa Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal, divulgada nesta quarta-feira (8).

A percepção é ainda maior entre as pessoas que se identificam como parte de povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e seringueiros. Nesse caso, 42,2% das pessoas dizem já sentir os efeitos provocados pelas mudanças climáticas.Esses também fenômenos afetam diretamente o cotidiano dos estudantes, como mostrou o Porvir no especial “Escolas Resilientes”, vencedor da categoria jornalismo de soluções do Covering Climate Now Awards 2025.


Além disso, o país aparece abaixo da média internacional no TIMSS 2023 (Trends in International Mathematics and Science Study), uma das principais avaliações globais de aprendizagem em ciências e matemática. Realizado a cada quatro anos em mais de 60 países, o TIMSS avalia como estudantes do 4º e do 8º ano compreendem e aplicam conceitos científicos e matemáticos em situações do cotidiano, incluindo temas relacionados ao meio ambiente, energia e mudanças climáticas.

Recomendações para fortalecer a educação climática

Com base nas respostas dos professores, o relatório apresenta um conjunto de recomendações para políticas públicas e práticas escolares, alinhadas às melhores referências internacionais em educação climática.


1. Integrar o tema ao currículo


É essencial que a educação sobre mudanças climáticas seja formalmente incorporada aos currículos escolares, desde a educação infantil até o ensino médio.


Os professores destacaram que o tema deve ser obrigatório por lei e tratado de forma contínua, evitando que pareça uma questão governamental distante da vida das pessoas. A proposta é que a educação climática ajude os estudantes a relacionar os fenômenos ambientais com sua realidade cotidiana.


2. Adotar uma abordagem interdisciplinar


O relatório reforça a importância de abordar o tema de forma transversal, conectando áreas como ciências, geografia, sociologia e filosofia.

Essa integração deve garantir o desenvolvimento tanto da compreensão científica quanto da consciência socioambiental, permitindo que os alunos reflitam sobre questões climáticas que afetam suas comunidades e estilos de vida.


3. Apoiar professores com formação de qualidade


O investimento em formação profissional docente é apontado como uma das medidas mais urgentes.

Os educadores pedem oportunidades de capacitação em educação ambiental e climática, independentemente de sua formação inicial. Essas formações devem ser contínuas, estruturadas e realizadas durante o horário de trabalho, para que o tema seja incorporado à rotina escolar e não dependa apenas do esforço individual dos professores.


4. Disponibilizar recursos pedagógicos confiáveis e contextualizados

Os professores também enfatizam a importância do acesso a materiais de alta qualidade, cientificamente verificados e adaptados às realidades locais.


O relatório recomenda ampliar a produção e distribuição de recursos didáticos, guias e atividades práticas que possam ser utilizados por escolas públicas e municipais em projetos sobre meio ambiente e sustentabilidade.


Implementação e compromisso

Para que essas mudanças sejam duradouras, o relatório também recomenda que a responsabilidade pela educação climática seja compartilhada entre escolas, redes de ensino e órgãos públicos.


O documento propõe a criação de equipes dedicadas à implementação da agenda climática nas escolas, com o papel de mobilizar diferentes atores, acompanhar as ações e oferecer apoio contínuo aos professores por meio de formações, mentorias, coleta de dados e devolutivas.


Essas equipes devem envolver diferentes níveis do sistema educacional, incluindo escolas, secretarias de educação, universidades e instituições de pesquisa, de forma a garantir que as questões mais complexas sejam enfrentadas com recursos e autoridades necessárias.

Comentários


Posts Em Destaque
Posts Recentes
bottom of page